Capítulo 2
1. Algum tempo depois, num dia de festa
religiosa, foi preparado um grande banquete na casa de Tobit.
2. Ele
disse então ao seu filho: Vai buscar alguns homens piedosos de nossa tribo, para
comerem conosco.
3. Ele saiu, mas logo voltou, anunciando ao pai que
um dos filhos de Israel jazia degolado na praça. Tobit levantou-se imediatamente
da mesa, sem nada haver comido, e foi aonde estava o cadáver.
4.
Tomou-o e levou-o clandestinamente para a sua casa, a fim de sepultá-lo com
cuidado depois do sol posto.
5. Tendo escondido o cadáver, começou a
comer com pranto e tremor,
6. lembrando-se do oráculo que o Senhor
tinha pronunciado pela boca do profeta Amós: Vossas festas mudar-se-ão em luto e
lamentações (Am 8,10).
7. Quando o sol se pôs, ele foi e o
sepultou.
8. Seus vizinhos criticavam-no unanimemente. Já uma vez
ordenaram que te matassem, precisamente por isso, e mal escapaste dessa sentença
de morte, recomeças a enterrar os cadáveres!
9. Mas Tobit temia mais a
Deus que ao rei, e continuava a levar para a sua casa os corpos daqueles que
eram assassinados, onde os escondia e os inumava durante a noite.
10.
Ora, aconteceu que um dia, cansado desse trabalho, voltou para a sua casa e
deitou-se junto à parede onde adormeceu.
11. Enquanto dormia, caiu-lhe
de um ninho de andorinhas esterco quente nos olhos, e ele tornou-se
cego.
12. Deus permitiu que lhe acontecesse essa prova, para que a sua
paciência, como a do santo homem Jó, servisse de exemplo à
posteridade.
13. Como havia sempre temido a Deus, desde a sua
infância, e guardado seus mandamentos, ele não se afligiu (nem murmurou) contra
Deus por ter sido atingido pela cegueira.
14. Mas perseverou firme no
temor de Deus, e continuou a dar-lhe graças em todos os dias de sua
vida.
15. Assim como o bem-aventurado Jó foi insultado por outros
chefes, assim seus parentes e amigos escarneciam de seu
comportamento:
16. Onde está, diziam eles, essa esperança por cujo
amor deste esmolas e sepultaste os mortos?
17. Porém Tobit
repreendia-os, dizendo: Não faleis assim;
18. somos filhos dos santos
(patriarcas), e esperamos aquela vida que Deus há de dar aos que não perdem
jamais a sua confiança nele.
19. Ora, Ana, sua mulher, ia todos os
dias tecer, e trazia o que ela ganhava com o trabalho de suas
mãos.
20. Foi assim que, tendo trazido para casa um cabrito que
recebera (como gratificação),
21. seu marido ouviu-o balir e disse: Vê
que ele não tenha sido roubado; restitui-o ao seu proprietário, porque não nos é
permitido comer, e nem mesmo tocar, o que foi roubado.
22. Ao que lhe
respondeu sua mulher com indignação: Tua esperança é manifestamente vã; agora
tuas esmolas mostram bem o que valem! Com estas e outras palavras semelhantes
ela censurava-o duramente.
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